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Entre o livro e a sala de exposição: novas espacialidades na poesia brasileira contemporânea

Atualizado: 7 de ago. de 2020

por André Pinheiro


Comunicação apresentada no evento 13. Deutscher Lusitanistentag, realizado na cidade de Augsburg (Alemanha), em setembro de 2019.

No acervo das pesquisas sobre o espaço ficcional, a imagem da metrópole (sobretudo aquelas localizadas em território sul-americano) é comumente delineada por características negativas. Por ser palco do progresso desenfreado, da segregação entre as classes sociais, da violência eminente e da falência ambiental, ela parece ter adquirido o papel de antagonista à própria vivência humana. Em parte, essa concepção decorre de uma tradição crítica que vincula à experiência da modernidade e da evolução tecnológica a um denso processo de reificação. Dessa forma, a maneira mais eficaz de se recuperar a humanidade perdida seria negar as experiências da metrópole e se voltar para uma configuração espacial do passado, muitas vezes erguida apenas no campo da memória. Trata-se de um contexto no qual o homem passa a viver em uma espécie de retrotopia, termo empregado por Zygmunt Bauman para designar um espaço marcado pelos retrocessos do tempo hodierno, obrigando o indivíduo a se refugiar em um passado mitificado.

Nas últimas décadas, contudo, o cenário tem mudado radicalmente e a experiência da metrópole emerge com vigor, oferecendo resultados profícuos e ampla possibilidade de expressão artística. Distante daquela antiga relação topofóbica, a configuração da metrópole contemporânea (marcada pela presença do mercado tecnológico, pela divulgação mais sistemática do saber científico, pela multiplicidade de culturas e pela abrangência das mídias) agora proporciona novos paradigmas de se pensar e de se fazer poesia. Como resultado, surgem obras que exploram a potencialidade midiática do código linguístico e extrapolam o suporte tradicional do livro.

Evidentemente, a noção de espaço também é afetada nesse novo modelo de poesia, de modo que ao campo do espaço representado na obra se vincula o campo do espaço em construção na obra – para citar a leitura do crítico de arte Alberto Tassinari acerca da constituição do espaço moderno.

Dessa forma, a partir da leitura crítica da poesia de Arnaldo Antunes, Nuno Ramos e Augusto de Campos, nesta conferência busquei evidenciar os novos mecanismos de espacialidade empregados na lírica brasileira contemporânea. Foram especialmente analisados um conjunto de poemas no qual o texto adquire um suporte tridimensional, migrando da página do livro para as paredes da galeria, para as telas de tevê ou de computadores, para os muros da cidade etc.

Acreditamos que a estruturação do espaço constitui a espinha dorsal dessas obras, pois nele repousam traços estilísticos de uma nova unidade artística. De natureza dual (dado que se articula dentro e fora da obra), é precisamente na categoria do espaço que estão materializadas uma concepção de vida contemporânea, de cultura pós-moderna, de sociedade hodierna e de uma vigorosa expressão da linguagem.

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